terça-feira, 29 de novembro de 2016

Infrações de trânsito devem chegar a 3 milhões no estado


Rio - Avenida Brasil, sentido Zona Oeste, altura de Irajá, 16h40 do último sábado. Quem trafegava por lá naquele momento, mal pôde acreditar na cena surreal: por mais de três quilômetros, na faixa seletiva, um motorista de táxi dirigia apenas com a mão esquerda no volante. Com a direita, controlava o movimento frenético e ritmado de uma mulher que fazia sexo oral nele. O flagrante foi filmado pelo DIA. Em outra situação no trânsito, às 8h20 na Lapa, também filmada pela reportagem, um motorista de um ônibus, acumulando a função de cobrador, contava dinheiro com o veículo em movimento, num trecho da Rua do Riachuelo. Já no dia 1º de julho deste ano: agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagram o condutor de um caminhão Volvo XC60 a 188 quilômetros por hora na Rodovia Rio-Petrópolis.
São exemplos de imprudências no trânsito que parecem não ter fim. Os números comprovam que os motoristas do Estado do Rio continuam mal educados e colocando as próprias vidas e a de terceiros em risco. De janeiro até o fim deste mês, segundo estimativas do Detran-RJ, pelo menos três milhões de motoristas terão sido infracionados nas vias estaduais. Média de 8,3 mil por dia. Praticamente a mesma quantidade do ano passado. 
Detalhe do vídeo feito pelo Dia. Sexo oral em plena Av. BrasilFrancisco Edson Alves
Para especialistas, a falta de campanhas educativas contínuas e uma melhor preparação dos motoristas nas auto-escolas são as principais causas de violência no trânsito fluminense. Conforme os últimos estudos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde-SUS (Datasus), da PRF e do Instituto de Segurança Pública (ISP), mais de 1,7 mil pessoas morreram em virtude de acidentes só no ano passado no estado.
“Não há ações governamentais para Educação e, muito menos, para reeducação de condutores no Brasil. Isso, literalmente, é combustível para que ocorram aberrações como essas (relatadas acima)”, lamenta o engenheiro Fernando Diniz, que fundou ONG Trânsito Amigo, e passou a cobrar leis mais duras, depois que seu filho, Fabrício, morreu em 2003 num acidente, aos 20 anos, na Barra da Tijuca.
“Defendo sempre a união da tecnologia, como a adoção de simuladores de direção veicular, e conteúdo pedagógico em favor de uma formação melhor de motoristas, resultando em um trânsito mais seguro e que busca preservar vidas”, diz Roberta Torres, outra especialista no setor.
“Custei a acreditar no que vi”, comentou Roberto Silva, passageiro de um ônibus que seguia paralelo ao táxi no último sábado e que presenciou a “façanha”, como classificou, do “taxista assanhado e sua passageira desinibida”. 
Excesso de velocidade é recorde de multas no estado
Motorista de ônibus dirigindo e contando dinheiro na Lapa flagrado pela reportagem do DIAFrancisco Edson Alves
O Código Brasileiro de Trânsito (CTB) não tipifica como infração sexo ao volante, mas, de acordo com especialistas, se for flagrado nessa situação, o motorista pode ser multado por dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis de segurança. 
Neste caso, trata-se de multa leve, que leva a perda de três pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 53,20.
Esse tipo de infração — não necessariamente ligada a sexo —, é recorrente no Rio, onde o ranking de multas entre os quase 5 milhões de veículos da frota estadual, é liderada pelo excesso de velocidade. Em seguida aparecem com mais frequência desrespeito ao sinal vermelho e estacionamento sobre calçadas e outros locais irregulares.
Este ano, a PRF, que conta até com a ajuda de um helicóptero para fiscalizar as dez rodovias federais no estado, reforçou suas blitzes. No dia 1º de julho, somente em uma operação de duas horas, os agentes flagraram, com radar portátil, 200 motoristas em excesso de velocidade. Um deles a 188 quilômetros por hora.
No Rio, uma multa a cada 30 segundos é aplicada
Em junho, o DIA mostrou com exclusividade que a cada 30 segundos, um motorista é multado pela Guarda Municipal no Rio. Só em 2015, a corporação emitiu 1,01 milhão de autos de infração, o equivalente a 117 por hora. Os números — o dobro da cidade de São Paulo, a maior metrópole da América Latina — ajudaram a arrecadar R$ 187 milhões para os cofres públicos ano passado.
Na mesma velocidade frenética das canetas dos guardas, também cresce a quantidade de reclamações contra supostas arbitrariedades na hora da aplicação das multas, a dificuldade que o contribuinte tem para recorrer das infrações supostamente indevidas e pardais fora do alcance da visão.
Processos de cassações de carteiras atingem mais de 4 mil motoristas
No último dia 24, o Diário Oficial do estado publicou 4.071 notificações do Detran-RJ para condutores que respondem a processos para suspensão e cassação da Carteira Nacional de Habilitação. Desse total, 822 já estão suspensos e 88, cassados, devendo entregar suas carteiras ao departamento em até dez dias. 
Boa parte dos infratores, porém, segundo o Detran, não foi localizado pelos Correios por não ter atualizado o endereço, sendo os motoristas avisados pelo Diário Oficial.
Os condutores com carteiras cassadas estão proibidos de dirigir por dois anos e os suspensos terão que cumprir o tempo de penalidade imposto para poder voltar ao trânsito. Depois de entregar a CNH, todos terão que passar por curso de reciclagem de 30 horas de aulas e, no caso dos cassados, refazer todo o processo para obtenção da carteira, como determina o Artigo 263 do CTB. As CNHs cassadas têm de ser levadas ao Núcleo de Documentos Acautelados, na sede do Detran, no Centro do Rio.

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