terça-feira, 31 de março de 2015

Sobrevivente do Sumaré diz que corpo de menor foi jogado sobre ele


'Ele chamava por mim', afirmou o jovem sobre o jovem morto. 
Policiais respondem por sequestro e cárcere na Justiça Militar 

Henrique CoelhoDo G1 Rio
Mateus de Jesus Lima dos Santos, o jovem que se fingiu de morto para escapar de policiais militares que mataram outro adolescente, Mateus Alves dos Santos, disse nesta terça-feira (31), em depoimento na Auditoria de Justiça Militar, que o corpo do rapaz, que conhecia de vista, foi jogado em cima dele e ele teve que o empurrar para poder escapar.
Em 11 de junho de 2014, segundo investigações da polícia, os cabos da PM Fábio Magalhães Ferreira e Vinícius Lima Vieira perseguiram os dois menores, que estariam praticando furtos no Centro do Rio. Eles foram colocados no veículo e os policiais seguiram para o Morro do Sumaré. Ainda de acordo com as investigações da polícia, Mateus de Jesus Lima dos Santos levou um tiro nas costas e outro na perna e caiu se fingindo de morto. Mateus Alves dos Santos foi tirado de dentro do carro, levado para uma ribanceira e supostamente executado.
O adolescente que sobreviveu é interno em uma unidade socioeducativa e passou toda a audiência algemado, afirmou que, já se fingindo de morto, ouviu Mateus chamar por ele.
"Ele gritava: 'Ceguinho, Ceguinho', e logo depois os policiais deram muito tiro nele", contou.
A Auditoria de Justiça Militar julga os dois policiais pelo crime de sequestro e cárcere privado, pelo qual ambos foram denunciados no Ministério Público Militar.
Mateus contou que foi abordado por policiais no dia 11 de junho de 2014 na Central do Brasil e colocado na caçamba de um carro da PM juntamente com um adolescente, que depois viria a ser liberado pelos policiais. Ao chegar no Sumaré, ele disse que os policiais deram dois tiros para o alto e depois mandaram-no sair. Um deles, cujo nome Mateus não se lembra, o levou para um barranco, chutando-o.
"Ali ele já falou que ia me matar, e eu comecei a chorar. Me deu o primeiro tiro no joelho, e depois que me derrubou, me deu um tiro nas costas", relatou.
Depois que os policiais foram embora, ele diz que andou até uma auto-escola, onde teve a ajuda negada. Ao andar mais, chegou ao Morro do Turano, onde foi ajudado por uma enfermeira. Ele negou estar cometendo crimes na Central do Brasil no dia do fato.
A familia de Mateus Alves dos Santos, que morreu, esteve na audiência.
"Não vamos descansar", afirmou a tia de Mateus, Sueli.
"Eles têm de pagar", disse o pai, Tyago Santos.
O promotor do Ministério Público Militar Bruno Guimarães disse que o depoimento foi ótimo.
"Ele deu detalhes da ação dos policiais, dos tiros que recebeu. Foi excelente", afirmou.
Testemunhas de acusação
Três guardas municipais que auxiliaram na captura dos menores afirmaram que já havia outro menor no carro da PM quando levaram dois dos jovens acusados de roubo na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio.
Algumas horas depois, segundo a denúncia do Ministério Público Militar, os policiais mataram Mateus Alves dos Santos e atiram em Mateus Jesus Lima dos Santos, que sobreviveu. O outro jovem foi liberado, mas depois sofreu ameaças dos PMs envolvidos.
Segundo Anderson Carlos Pereira Dias, guarda municipal, ele e mais outros dois colegas, Jaime de Oliveira e Ericson Jorge Mesquita da Silva viram que o policial Vinicius Lima Vieira estava tentando imobilizar um menor que, segundo o PM, havia acabado de cometer um roubo.
"Demos o apoio ao policial. Eu emprestei minha algema para que ele controlasse o menor. Ele disse que outro jovem havia participado da ação, e nós o levamos até lá", afirmou.
Jaime Oliveira, outro guarda municipal, disse que quando foram levar o jovem, que viria a ser liberado pelos policiais, para o carro de polícia, já havia outro garoto no veículo.
"Eles colocaram os dois adolescentes na caçamba", afirmou ele.
Outros três PMs haviam sido convocados, mas foram dispensados por desconhecimento do fato.

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