quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

PM afasta nove policiais de ação na Palmeirinha, Rio


Todos vão responder a um Inquérito Policial Militar (IPM).
Ricardo Vagner e Allan de Lima Monteiro são alguns dos nove policiais.

Do G1 Rio
A Polícia Militar afastou da corporação, nesta quinta-feira (26), os nove PMs que participaram de uma ação policial na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, quando dois homens foram baleados. Ainda de acordo com a polícia, todos vão responder a um Inquérito Policial Militar (IPM). Entre os nove, um deles é tenente e os outros oito são praças.

Ricardo Vagner Gomes e Allan de Lima Monteiro são dois dos oito policiais que serão submetidos às investigações.

Medo de represália da PM
O pai do rapaz baleado na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio, disse na manhã desta quinta-feira (26) em entrevista ao G1 que sente medo que o filho seja vítima de represália por parte dos policiais que atiraram nele e no colega que morreu durante a ação dos PMs na comunidade.
“O meu único medo é de uma covardia. Eles não conseguiram provar o que queria e podem querer se vingar. Mas tenho fé e Deus está à frente de tudo. O importante é que estamos mostrando que ele é inocente”, afirmou Adilson da Conceição Cezário, de 46 anos, pai de Chauan Jambre Cezário, 19 anos, que foi baleado e está com uma bala alojada no peito.
Na sexta-feira (20) o jovem que morreu durante a ação registrou com o celular os últimos minutos da própria vida. Ele conversava e gravava um vídeo com amigos no momento em que levou um tiro. A Polícia Militar, que fazia uma operação na comunidade, afirmou, no dia, que o grupo foi atingido em confronto. Mas um outro rapaz que também acabou baleado nega essa versão da PM. As imagens do vídeo podem ajudar a esclarecer o que aconteceu.
Segundo Adilson, as imagens feitas pelo colega do filho que foi morto revoltaram, mas também deram alívio para a família. “Eu senti muita raiva quando vi aquilo. Mas também foi bom, pois tudo que eles (policiais) fazem está certo e a população está sempre errada. Meu filho sempre me deu orgulho, é um jovem trabalhador”, afirmou o pai de Chauan, ressaltando que o jovem trabalha como ambulante na praia para poder comprar terno para ir aos cultos da igreja e pagar a passagem para os treinos de futebol.
Sonho interrompido
Na terça-feira (24), Chauan iria fazer um teste no time de futebol Bangu Atlético Clube, mas não pode ir devido ao ferimento. “Desde pequeno ele queria ser jogador de futebol. Espero que isso não atrapalhe e ele consiga realizar o sonho dele”, disse Adilson. Como ainda está com a bala alojada no peito, não há previsão para a realização de um novo teste. A família também não sabe se o jovem terá ou não condições de voltar a jogar bola.
Imagens mostram agonia de rapazes e apelo de moradores. (Foto: Reprodução / TV Globo)Imagens mostram agonia de rapazes e apelo de moradores. (Foto: Reprodução / TV Globo)
Ainda de acordo com o pai, nenhum hospital público pelo qual o rapaz passou pode fazer a cirurgia para a retirada da bala. “Alguns dizem que não tem o equipamento, cada um diz uma coisa diferente. Estamos sofrendo constrangimento nos hospitais. Se não fosse a igreja não sei o que seria dele”, afirmou Adilson, explicando que a igreja a qual a família pertence se ofereceu para custear a cirurgia em um hospital particular. “Infelizmente não temos condições de pagar. Só quero ver meu filho bem”.
De acordo com a família, logo após ser baleado Chauan foi levado para o Hospital Estadual Carlos Chagas. “O médico costurou ele a sangue frio, com meu filho sentindo dor”, afirmou o pai. Para o advogado da família, o cirurgião teria alegado não ser necessário retirar a bala. “Os policiais disseram que ele era bandido. O cirurgião apenas olhou e disse que onde a bala estava não incomodava ninguém. Mas esse projétil servirá, inclusive, para fazer o confronto balístico”, destacou Fernando Cruz, que também entrará com uma ação na Justiça para responsabilizar o Estado. O G1 entrou em contato com a secretaria Estadual de Saúde mas ainda não obteve retorno.

Imagens mostram a agonia dos feridos
O vídeo registra um momento de diversão entre três amigos. Dois deles estavam de bicicleta. Um minuto e quinze segundos depois do início da gravação, os jovens correram. Logo, tiros são ouvidos. “Corri atrás dele só pra pegar o celular, pra ele parar de gravar”, explicou Chauan.
O amigo de Chauan, Alan de Souza Lima, de 15 anos, não resistiu. O celular estava nas mãos de Alan e caiu no chão, mas continuou gravando. O vídeo permite ouvir a agonia dos feridos e as vozes de dois homens, que seriam policiais militares. Um deles pergunta aos garotos por que eles correram. “A gente tava brincando, senhor”, responde um dos rapazes.
Segundo testemunhas, os policiais tentaram justificar o fato de os rapazes terem sido baleados, afirmando que eles entraram no meio da troca de tiros entre os PMs e criminosos.
Chauan foi baleado no peito e sobreviveu, desmentindo a versão da PM (Foto: Reprodução / TV Globo)Chauan foi baleado no peito e sobreviveu, desmentindo a versão da PM (Foto: Reprodução / TV Globo)
Em nota divulgada no sábado (21), a Polícia Civil informou que os jovens ficaram feridos durante um confronto com PMs e que na ação foram apreendidos um revólver e uma pistola. Ainda segundo a nota, Chauan foi autuado em flagrante por porte de arma e resistência.
Na madrugada de sábado, o caso provocou um protesto violento na Avenida Brasil. Um ônibus e um caminhão foram queimados. A via expressa ficou interditada por quase quatro horas.
Chauan mora na Baixada Fluminense, mas decidiu passar o fim de semana na casa do patrão, na Favela da Palmeirinha, para economizar dinheiro de passagem. Ele vende mate na Praia de Ipanema. “Justiça. Só isso. Que prove a minha inocência. Eu não sou bandido”, afirmou o rapaz.

Assim que tomou conhecimento do vídeo, o comando da PM determinou o afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência e também a abertura imediata de um inquérito policial militar.

A Polícia Civil, que investiga o caso, já recebeu uma cópia do vídeo. De acordo com a delegada Adriana Belém, titular da 30ª DP (Marechal Hermes), foi instaurado inquérito para apurar a morte de Alan de Souza Lima, 15 anos, e a lesão corporal de Chauan. Segundo a assessoria, antes da divulgação das imagens a polícia já tinha pedido a revogação da prisão de Chauan devido a inconsistências nos depoimentos. A realização de uma reconstituição está sendo analisada pela delegada e o jovem baleado está sendo aguardado para prestar esclarecimentos.
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